22.6.06

O mito de Adam


A televisão - e não os poetas "cegos", como Homero ou Borges - é hoje a maior criadora de mitos. Talvez a palavra certa não seja criadora, mas fabricante. Na verdade, só os poetas criam; a televisão limita-se a "recriar", a fabricar.

Francisco Adam, o jovem actor falecido há algum tempo atrás, tinha tudo, diz-se, para vir a ser um mito. Até morreu cedo, como James Dean. O tempo encolhe a aura enquanto estica as rugas. Daí que seja necessário morrer cedo para subir às alturas.

Francisco Adam subiu às alturas, mas deixou, no corpo inerte, algumas relíquias: vestígios de cocaína, anfetaminas, cafeína. Sob o mito, um nada que era tudo para um sem número de admiradores, saltou à vista - embora não lhe fosse dado grande visibilidade - que também esse puto cultivava, em segredo, os seus "jardins proibidos", os seus "paraísos artificiais".

O fascínio era o "manto de noé" que cobria o "real" humano, demasiado humano, deste puto erigido em mito graças ao poder da televisão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Outra vez parado?