2.5.06
Freud: o mal-entendido
Há um mal-entendido acerca de Freud, neste ano em que se comemoram os 150 anos do seu nascimento, que tende a persistir; tal reside na ideia de que Freud teria sido, antes de mais, uma espécie de "sexólogo", pelo menos a acreditar, por exemplo, no título do dossiê que a revista Visão dedicou recentemente a Freud: "O sexo, Freud e nós" (nº 686, 3 de Maio de 2006, pp. 76-90).
A imagem que mais parece associar-se a Freud, relegando tudo o resto para o baú das relíquias, continua a ser, cada vez mais, o sexo e a sexualidade. É isso que vinga, como um ícone, na cultura popular(ucha), que se impõe como uma ideia-feita, pronta a vestir ou a desvestir.
Para uns, Freud teria contribuído para "libertar" a sexualidade, para outros, pelo contrário, para a "reprimir"; uns acusando-o de "libertino", outros de "sacerdote" dos tempos modernos; uns chamando-o "revolucionário", outros, enfim, "reaccionário".
Parece haver um Freud para todos os gostos e até para o desgosto de muitos!
Porém, vale a pena, hoje que a sexualidade está por toda a parte, como um deus profano e panteísta, inundando tudo e todos, numa profusão sufocante, até ao limite da saciedade, segundo um voyeurismo crescente e impositivo, vale a pena, dizia eu, perguntar: por que é que essa "libertação" sexual não conseguiu calar a queixa e o sintoma, por parte de homens e mulheres, sobre a mesma, antes parece tê-la aumentado, como se a promessa de felicidade, que há em toda a "revolução", se tivesse revirado contra o sujeito, segundo uma lei feroz e obscena, que não pára de o fustigar.
Não será porque há algo de mais "real" do que as imagens fazem crer neste negócio do sexo e da sexualidade? Nesse caso, a "revolução", hoje, poderia consistir nisto: em afrontar-se a esse "real".
Aliás, não foi isso que fez aquele que, bem ou mal entendido, celebra(ria) este ano o 150º aniverário do nascimento?
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