10.11.05

Goza!

Tem-se visto, ouvido e lido nos últimos dias um pouco de tudo a propósito dos "acontecimentos" nas periferias de muitas cidades francesas.

Serão "inconscientes" os jovens que provocam tamanho caos?

A minha resposta é: NÃO!

O inconsciente é uma espera, uma espécie de desvio por uma "outra cena" (pensemos em Halmet, sempre a adiar o acto); estes jovens (muito jovens, cada vez mais jovens) têm pressa e vão a direito. Já não podem (ou não querem) esperar mais, como dizia um deles.

Têm pressa de quê? De gozar. Se não podem gozar aqui e agora, destroem tudo o que assinala o (possível) gozo de outros. Carros, casas, etc. Destroem tudo até...à auto-destruição. Pois a exigência do gozo não tem limites.

O Inconsciente é o domínio da fala e da linguagem; estes jovens actuam à letra, no real. Deixaram de assinar a revista do inconsciente. Deitaram-lhe fogo.

Eles não são inconscientes; são o inconsciente a céu aberto, no real, quando deixou de haver distância entre as palavras e as coisas, quando "incendiar" já não é uma metáfora, uma figura de retórica, mas um acto.

O inconciente é o domínio do sonho. Se por vezes o sonho termina em pesadelo, acordamos dele para...continuarmos a dormir de outra maneira; estes jovens não dormem (e não sonham) para continuarem o pesadelo, no real, noite após noite.

O desejo inconsciente implica dialéctica, mediação; aqui não há dialéctica nem mediação. Como se houvesse um imperativo cada vez mais exigente a sussurar ao ouvido: goza!

Será que o discurso filosófico da racionalidade do ser humano (tem de haver racionalidade nisto!) ou o discurso psicológico da compreensão (devemos compreendê-los, apesar de tudo!) estão à altura do "real do gozo" que aqui se manifesta?

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