Ela exibiu os sete (creio que eram sete) telemóveis para quem a via pela televisão como quem exibe um troféu de caça.
Tinha sete telemóveis, a rapariga. Sete.
O mais impressionante foi quando ela disse que tinha necessidade de todos eles para falar com esta, com aquela e com a outra.
Um telemóvel por amiga.
Imagino que uma pessoa destas não tenha tempo para para comer.
Na verdade, come palavras. Come e vomita, pois não deve ter muito tempo para as digerir.
Não interessa o que se diz, o que é preciso é dizer, dizer sem parar.
Falar tudo de todas as maneiras.
Enganam-se os que pensam que se trata de satisfazer uma necessidade comunicativa; o que se trata é de um novo modo de gozar.
O telemóvel representa um novo destino para a pulsão, como diria o dr. Freud, que não tinha telemóvel.
Pela boca se come; pela boca se fala. Há os que comem e não falam (eu, por exemplo, ouvi desde muito cedo que não se fala à mesa, quer dizer, quando se come). Há os que falam e não comem.
E há os que comem palavras: aqueles para quem falar é comer.
Falo, logo gozo, poderia ter dito Descartes se usasse telemóvel.
Fala! Goza!
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