7.10.08

Simplex

O que está a acontecer nas escolas portuguesas, por obra e graça da implementação do novo regime de avaliação de desempenho dos professores, poderia resumir-se no desabafo de um deles: "com tanta legislação que temos para ler e tanto documento, impresso, ficha...que temos de preencher, será que ainda nos resta tempo para dar e preparar aulas?

Ironia das ironias: supostamente, a avaliação visaria melhorar o ensino e a aprendizagem!

Quando o meio é extremamente complexo, sinuoso e labiríntico, rapidamente se perde de vista o fim pretendido. O processo burocrático torna-se kafkiano - para não dizer perverso - segundo uma lei, insensata, que a todos comanda. 

Só este Ministério da Educação parece não ver, não querer ver (o que assenta num recalcamento) o que é claro para toda a gente, em particular aqueles que estão directamente implicados num tal processo: este sistema é inútil, cansativo, injusto  e não tem futuro. 

Entretanto, alguma coisa já se conseguiu: desmotivar os que estavam motivados, irritar os pacíficos, instalar a crispação entre velhos colegas, fazer sorrir os "oportunistas"...

Alguma coisa mexe. O mundo pula e avança, como dizia o poeta. Chama-se a isto: fazer reformas no ensino. Para o bem comum. O progresso do país e do mundo. E, já agora, o controlo do défice.

1 comentário:

Jorge Rocha disse...

Com tanta novidade legislativa para conhecer, com tanta nova prática comunicativa de tudo o que se faz e da comunicação feita do que se fez, com tanta bur(r)ocracia, sobra uma pedagogia na lógica «pronto a servir», normalizada e insensível... porque a sensibilidade não sobrevive ao cansaço. E não pode haver educação plena no meio do cansaço que nos invade até ao mais fundo da alma. O cansaço e a desilusão. Sim, porque o ânimo agora chega por invocação racional... damos connosco a dar-nos motivação vinda «de cima», do alto do autoritarismo da razão e não de onde devia e costumava a vir... lá «do fundo» de nós, do território mobilizador sem esforço nem sofrimento, que é o território da emoção. Agora sobra-nos a razão que se impõe com o «olha que os alunos não têm culpa disto... e eles é que contam, no meio de toda esta papelada!». E lá vamos nós, porque eles não têm culpa, porque tem que ser, mas cada vez menos porque isso é um imperativo do nosso sentido de felicidade e gratificação.

Um abraço, com amizade.

Jorge Rocha