29.2.08

Professores sem qualidade

Tem havido, no discurso sobre a a avaliação do desempenho dos professores, uma insistência no "mérito". O mérito é uma "qualidade".

Acontece, porém, que vivemos hoje na era do "homem sem qualidades", para usar a expressão que deu título ao famoso romance de Robert Musil: um romance a que o escritor dedicou quase 30 anos de sua vida e que ficou inacabado.

O Homem sem qualidades é a alegoria da modernidade: o triunfo da razão numérica, a tentativa de reduzir a complexidade do real ao matema.

Quando se pretende casar o matema (sem qualidade) com o mérito (uma qualidade), o resultado é a"retórica da avaliação": só têm qualidade aqueles que preencherem determinados parâmetros quantitativos.

A consequência (previsível) é o imobilismo burocrático: a morte do desejo. À "histerização" dos professores (que se queixam cada vez mais), vai suceder - se me permitem o termo - uma "obsessivação".

Numa completa alienação ao pedido e à exigência do Outro (esmagados pela máquina burocrática da avaliação), os professores vão esquecer o desejo que os move: ensinar.

Mas que desejo é esse?

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