20.3.06

Uma arte de morrer


Com a morte de Fernando Gil, no Domingo, o pensamento em geral e a filosofia em particular ficaram mais pobres.

Recordo-me de ter escutado da sua boca, não há muito tempo, numa entrevista que o filósofo deu a um canal de televisão, o seguinte: interesso-me cada vez mais pelo que está antes e depois da ciência. Para alguém que dedicou grande parte da sua vida a reflectir sobre a ciência (Provas, Mimesis e Negação, etc.) não deixa de ser paradoxal.

Mas talvez o paradoxo seja aparente: com efeito, o que lhe interessava, desde os primeiros trabalhos, na ciência não era propriamente "científico", mas outra coisa: a prova, de que esta é capaz, a evidência para que aponta, mas que a transcende, a convicção que gera(é curioso que muitos dos testemunhos que pude ler hoje no jornal Público salientavam precisamente esse traço: "um homem de convicções fortes"), tal como veio progressivamente a evidenciar-se em trabalhos posteriores e mais recentes como: Tratado de Evidência, Modos de Evidência ou Acentos. E não se pode falar de "convicção", por exemplo, sem fazer entrar em jogo, ao lado do objecto científico, aquilo a que chamaria - não me ocorre outra palavra - um sujeito.

O que está antes e depois da ciência é também a vida e a morte. Fernado Gil, costumava dizer a propósito, parafraseando o velho Platão, que a "filosofia é uma arte de morrer".

Não é a morte, afinal, o último acento da vida?

A minha sentida homenagem!

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