É sabido que em Portugal se lê pouco.
Nos últimos tempos, cita-se muito determinados livros e autores (até aquelas personagens que só in extremis, com uma arma apontada à cabeça, leriam um livro, os citam). Um desses autores é José Gil e o livro, "Portugal, hoje - o Medo de Existir". Pelo facto de serem muito citados, criou-se a ilusão de que em Portugal, hoje, se lê mais do que outrora.
Ilusão! Tal como Saramago, antes (graças ao Nobel da Literatura), também José Gil (graças ao "Nouvel Observateur", que o colocou numa lista restrita dos maiores pensadores) e o seu livro passaram a citar-se como quem diz o nome de uma marca famosa, de prestígio, ou meio exótica, sem que dela se possa "gozar" efectivamente. Cita-se o nome da "marca", convencido, lá no fundo (pois o inconsciente não conhece o tempo, mantendo sempre as mesmas crenças) de que o nome é a coisa e basta, por isso, nomeá-la para a possuir.
Saramago (literatura), Gil (pensamento) e Mourinho (futebol), sem terem quase nada em comum - sobretudo os dois primeiros em relação ao último - têm, no entanto, para aqueles que os "citam" sem os lerem (talvez o mais lido até seja mesmo Mourinho), o mesmo valor de "eu-ideal" (que os reflecte imaginariamente) e de "ideal-do-eu" (o que gostariam de ser, que os mobilizaria...se isso não desse muito trabalho). Afinal, todos eles são, antes de tudo, "mouros" de trabalho.
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