22.4.05

Um novo papa?


F. Bacon, Estudo Sobre o Retrato do Papa Inocente X de Velazques, 1953

Na grande seca de inteligência que tem fustigado o país, é bom sentir uma gota de água.

José Gil - o filósofo do momento - tem uma coluna no Courrier International - Edição Portruguesa que se chama, deleuziamente, "Linhas de Fuga".

A "linha de fuga" da semana anterior (nº 2 - 15 a 21 de Abril de 2005) foi consagrada à "Segunda morte de João Paulo II". Nela se fala essencialmente de algo que resiste ao conceito e que, por isso, é nomeado de várias formas: o carisma, a graça, a aura, o charme, o estilo. Mas todos os nomes parecem deixar um resto inapreensível por nomear. Um resto insituável, atópico.

Lacan - retomando um termo grego no Seminário que dedicou em grande parte ao "Banquete de Platão" (Seminário VIII, A Transferência) - poderia, talvez, ajudar-nos a entender de que se trata.

Trata-se de que o segredo, necessário à maturação da vida (segundo o artigo de José Gil), é verdadeiramente a a(g)alma deste negócio "carismático". É por isso que os media - em particular a televisão - ao eliminarem "brutalmente o silêncio e a sombra", ao vasculharem a intimidade até ao abjecto, ao furtarem ao sujeito, seja ele qual for, o direito ao "segredo", em nome da sacra transparência, acabam por elimar todo e qualquer "carisma" e, com isso, o que pode causar o desejo de saber. Quando se alimenta demasiado a pulsão escópica, o desejo morre de fome.

Mas não foi precisamente o ex-papa, João Paulo, o principal responsável ao decidir revelar, finalmente, os "segredos" de Fátima? Depois de revelados, não têm "graça" nehuma. Parvoíces de crianças!

***

Um novo papa "nasceu" entretanto.

Um novo papa - como mostra à evidência o actual - não é um papa novo. Já nasceu velho para o cargo. Sem surpresa e sem mistério. A tradição do Espírito Santo já não é o quer era!

"Que morra Joseph Ratzinger (se a frase terminasse aqui tinha um outro sentido...) para que viva Bento XVI!"

Conseguirá este papa morrer de uma "segunda morte" para nascer de um "segundo nascimento?"

1 comentário:

Anónimo disse...

o JAM disse que ele e o F.Regnault tinham uma grande admiração intelectual pelo cardeal Ratzinger, mas devem desconhecer que o fulano andou pela juventude hitleriana and so on. A sua defeza da lei natural contra a ciência, pode muito bem enraizar-se nesta segunda infância.