Parece que até os mais avisados acabam, uma vez ou outra, por morder o isco. Foi o caso, por exemplo, do filósofo francês Bernard-Henry Lévy que, no seu livro De la guerre en philosophie, citou uma suposta obra dedicada à vida sexual de Kant, da autoria de um tal Jean-Baptiste Botul. O filósofo teria de reconhecer, depois, que este autor não passava afinal de uma invenção jornalística.
O caso parece constituir um bom exemplo de uma velha acusação atribuída a Freud: o "pansexualismo". Ou seja, caricaturando, a tendência a ver sexo em tudo e todos. Ele pode igualmente ser uma boa ilustração dos tempos que correm: ansiosos de ver tudo, de pôr tudo a nu. Até mesmo o que não existe...
Mas talvez a questão seja outra: o que é, afinal, mais estranho? Que Kant tivesse uma "vida sexual" ou que, tal como reza a lenda, nada de semelhante, de "patológico", tivesse abanado, perturbado, feito tremer o edifício lógico, gelidamente racional, em que ele se encerrou?
29.6.10
27.6.10
Dizer a verdade e apenas a verdade!
"Quem quiser saber a verdade, repito, a verdade, insisto, a verdade (do que eu penso), basta consultar o site da Presidência da República - lá está toda a verdade!" (O presidente Cavaco Silva, ontem, em resposta aos jornalistas).
Eis o apelo de alguém que diz ter como princípios fundamentais, de que não abdica, ser honesto e dizer sempre a verdade.
Há muitos anos, o psicanalista francês Jacques Lacan iniciou uma emissão televisiva afirmando igualmente dizer sempre a verdade. Eu digo sempre a verdade, mas não toda, porque dizê-la toda não se consegue. Dizê-la toda é impossível materialmente: faltam palavras. ("Televisão", Outros Escritos).
Serão mais perigosos aqueles que não dizem a verdade ou aqueles que têm a ilusão de poder dizê-la toda?
Eis o apelo de alguém que diz ter como princípios fundamentais, de que não abdica, ser honesto e dizer sempre a verdade.
Há muitos anos, o psicanalista francês Jacques Lacan iniciou uma emissão televisiva afirmando igualmente dizer sempre a verdade. Eu digo sempre a verdade, mas não toda, porque dizê-la toda não se consegue. Dizê-la toda é impossível materialmente: faltam palavras. ("Televisão", Outros Escritos).
Serão mais perigosos aqueles que não dizem a verdade ou aqueles que têm a ilusão de poder dizê-la toda?
21.6.10
Até onde pode chegar a loucura...quantitativa?
Confesso a minha ignorância: desconhecia a existência de tal coisa.
Foi ao passear pelas ruas de uma cidade do Sul do Brasil que deparei com um...Tesômetro: um objecto suposto medir a intensidade da paixão, segundo a legenda. Como vim depois a saber, este objecto não é tão inédito assim. Basta procurar no Google (ferramenta onde quase tudo se acha, excepto o "remédio" para a "crise" que vem afectando a Europa) para encontrar abundantes e ilustrativas referências ao dito objecto.
Vivemos, sem sombra da dúvida, na era da avaliação: tudo tem de ser medido, avaliado, quantificado.
Depois de tanta "loucura", restará ainda alguma espécie de "paixão" para medir?
Foi ao passear pelas ruas de uma cidade do Sul do Brasil que deparei com um...Tesômetro: um objecto suposto medir a intensidade da paixão, segundo a legenda. Como vim depois a saber, este objecto não é tão inédito assim. Basta procurar no Google (ferramenta onde quase tudo se acha, excepto o "remédio" para a "crise" que vem afectando a Europa) para encontrar abundantes e ilustrativas referências ao dito objecto.
Vivemos, sem sombra da dúvida, na era da avaliação: tudo tem de ser medido, avaliado, quantificado.
Depois de tanta "loucura", restará ainda alguma espécie de "paixão" para medir?
18.6.10
A morte serve para continuarmos a viver, muito simplesmente
A frase é de José Saramago, que nos deixou hoje.
Nos últimos dias, a morte levou duas pessoas que eu estimava muito: um escritor, de quem eu era leitor assíduo, e um colega e amigo - Pedro Lau Ribeiro, fundador de SPPB - com quem eu trabalhava e confraternizava semanalmente.
Saramago deixou um livro inacabado - ainda que a sua obra estivesse "fechada", como se dizia hoje na rádio; o Pedro deixou um desejo...inacabado.
Um e outro estiveram "vivos" até ao fim.
Eles continuarão a "viver" em nós, leitores e amigos.
Que a sua morte seja uma inspiração para continuarmos a viver.
Muito simplesmente.
Nos últimos dias, a morte levou duas pessoas que eu estimava muito: um escritor, de quem eu era leitor assíduo, e um colega e amigo - Pedro Lau Ribeiro, fundador de SPPB - com quem eu trabalhava e confraternizava semanalmente.
Saramago deixou um livro inacabado - ainda que a sua obra estivesse "fechada", como se dizia hoje na rádio; o Pedro deixou um desejo...inacabado.
Um e outro estiveram "vivos" até ao fim.
Eles continuarão a "viver" em nós, leitores e amigos.
Que a sua morte seja uma inspiração para continuarmos a viver.
Muito simplesmente.
17.6.10
In-disciplina
É uma frase do conhecido filósofo espanhol Fernando Savater: uma "autoridade" apreciada, lida e recomendada em muitas escolas portuguesas.
É a frase que abre um texto sobre o problema da indisciplina nas escolas e reza assim: "o aumento da violência nas escolas reflecte crise de autoridade familiar."
É uma ideia.
4.6.10
Vanitas
Em 1973, no Seminário Encore, o psicanalista Jacques Lacan escrevia o seguinte: "o discurso científico engendrou toda a espécie de instrumentos que é preciso (...) qualificar de gadgets. Vós sois de ora avante, infinitamente mais do que podereis pensá-lo, sujeitos de instrumentos que, do microscópio à rádio-televisão, se tornam elementos da vossa existência." (Lição de 13 de Março de 1973).
Passados que são mais de trinta anos sobre o dito de Lacan, na era da Internet, a "realidade" está aí para confirmar o poder...do discurso.
Capitalismo e ciência dão-se as mãos para (in)satisfazer o desejo e mergulhar o sujeito num banho de "objectos" descartáveis.
Passados que são mais de trinta anos sobre o dito de Lacan, na era da Internet, a "realidade" está aí para confirmar o poder...do discurso.
Capitalismo e ciência dão-se as mãos para (in)satisfazer o desejo e mergulhar o sujeito num banho de "objectos" descartáveis.
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