Em época de crise, em que tudo parece devir incerto, liquefazer-se (Zygmunt Bauman), faltando uma instância Outra que possa garantir ou dar confiança ao(s) sujeito(s) - na era do risco e da desconfiança generalizada - o modo como algumas vozes continuam a pregar no deserto as virtualidades do "mercado" faz lembrar uma nova (velha) religião. A alternativa costuma ser posta nos seguintes termos: os que "acreditam" e os que não "acreditam" no mercado...
Acontece, porém, que nenhuma religião (como se tem visto ultimamente a céu aberto) está isenta de "pecado", muito menos a sacrossanta religião capitalista do mercado. Como dizia o velho Pascal, no domínio da fé, o que conta é a "aposta"; o mesmo se poderia dizer, por maioria de razão, do capitalismo.
Durante uma emissão de rádio que eu tive oportunidade de escutar há alguns dias atrás (Rádio Clube Português), o sub-director do Diário Económico, respondendo a uma questão sobre a tentativa do Estado de limitar, ou mesmo diminuir, o salário de alguns gestores, defendia que tal não deveria acontecer. Questionado pelo locutor se tais salários, em momento de crise e dificuldade para os portugueses, não eram uma vergonha, ele respondeu: goste-se ou não, o capitalismo funciona assim. Ao que acrescentou: não se questionam da mesma forma os salários escandalosos de certos jogadores, como Messi ou Ronaldo, por exemplo.
Voilà: o capitalismo - e e tão apregoada "lei do mercado" - é comparável a um jogo, basicamente um jogo. Um jogo em que a "aposta" é (quase) tudo. Um jogo cada vez mais perigoso, como se tem visto pelos seus efeitos, reais, um pouco por todo o mundo.
Talvez, por isso, o enorme sucesso da China: um país "comunista" celebrando festivamente e à grande (se bem que não à francesa, apesar das "imitações"!) o triunfo do "capitalismo" e do "jogo". O jogo do capitalismo.
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