"Comissões de ética" (no Parlamento), "empresas de rating"...
Novos simulacros de bússula num mundo desbussolado?
Mas como podem tais bússulas querer indicar o Norte se de cada vez que se procunciam o mundo fica ainda mais atordoado, mais baralhado?
Parafraseando o poeta (quem diria?), entrámos a todo o vapor na era do "desassossego".
28.4.10
23.4.10
Jogos perigosos
Em época de crise, em que tudo parece devir incerto, liquefazer-se (Zygmunt Bauman), faltando uma instância Outra que possa garantir ou dar confiança ao(s) sujeito(s) - na era do risco e da desconfiança generalizada - o modo como algumas vozes continuam a pregar no deserto as virtualidades do "mercado" faz lembrar uma nova (velha) religião. A alternativa costuma ser posta nos seguintes termos: os que "acreditam" e os que não "acreditam" no mercado...
Acontece, porém, que nenhuma religião (como se tem visto ultimamente a céu aberto) está isenta de "pecado", muito menos a sacrossanta religião capitalista do mercado. Como dizia o velho Pascal, no domínio da fé, o que conta é a "aposta"; o mesmo se poderia dizer, por maioria de razão, do capitalismo.
Durante uma emissão de rádio que eu tive oportunidade de escutar há alguns dias atrás (Rádio Clube Português), o sub-director do Diário Económico, respondendo a uma questão sobre a tentativa do Estado de limitar, ou mesmo diminuir, o salário de alguns gestores, defendia que tal não deveria acontecer. Questionado pelo locutor se tais salários, em momento de crise e dificuldade para os portugueses, não eram uma vergonha, ele respondeu: goste-se ou não, o capitalismo funciona assim. Ao que acrescentou: não se questionam da mesma forma os salários escandalosos de certos jogadores, como Messi ou Ronaldo, por exemplo.
Voilà: o capitalismo - e e tão apregoada "lei do mercado" - é comparável a um jogo, basicamente um jogo. Um jogo em que a "aposta" é (quase) tudo. Um jogo cada vez mais perigoso, como se tem visto pelos seus efeitos, reais, um pouco por todo o mundo.
Talvez, por isso, o enorme sucesso da China: um país "comunista" celebrando festivamente e à grande (se bem que não à francesa, apesar das "imitações"!) o triunfo do "capitalismo" e do "jogo". O jogo do capitalismo.
Acontece, porém, que nenhuma religião (como se tem visto ultimamente a céu aberto) está isenta de "pecado", muito menos a sacrossanta religião capitalista do mercado. Como dizia o velho Pascal, no domínio da fé, o que conta é a "aposta"; o mesmo se poderia dizer, por maioria de razão, do capitalismo.
Durante uma emissão de rádio que eu tive oportunidade de escutar há alguns dias atrás (Rádio Clube Português), o sub-director do Diário Económico, respondendo a uma questão sobre a tentativa do Estado de limitar, ou mesmo diminuir, o salário de alguns gestores, defendia que tal não deveria acontecer. Questionado pelo locutor se tais salários, em momento de crise e dificuldade para os portugueses, não eram uma vergonha, ele respondeu: goste-se ou não, o capitalismo funciona assim. Ao que acrescentou: não se questionam da mesma forma os salários escandalosos de certos jogadores, como Messi ou Ronaldo, por exemplo.
Voilà: o capitalismo - e e tão apregoada "lei do mercado" - é comparável a um jogo, basicamente um jogo. Um jogo em que a "aposta" é (quase) tudo. Um jogo cada vez mais perigoso, como se tem visto pelos seus efeitos, reais, um pouco por todo o mundo.
Talvez, por isso, o enorme sucesso da China: um país "comunista" celebrando festivamente e à grande (se bem que não à francesa, apesar das "imitações"!) o triunfo do "capitalismo" e do "jogo". O jogo do capitalismo.
16.4.10
A ponta do iceberg
Tem-se falado muito, nos últimos tempos, da pedofilia no seio da igreja católica. Como o vulcão da Islândia, que vai ensombrando com seu manto de cinza os céus do Norte da Europa, levando ao encerramento de muitos aeroportos do velho continente, também a cinza do escândalo vai ensombrando a velha instituição.
Mas há algo verdadeiramente novo debaixo do sol?
O que é novo não é a coisa propriamente dita - basta ver uma simples exposição sobre instrumentos de tortura concebidos no tempo da Inquisição, por exemplo, para nos apercebermos a que ponto chegava a mente perversa daqueles homens -, mas a sua exposição, a sua visibilidade a céu aberto.
Sejamos claros: isto é apenas a ponta do iceberg. A "sociedade da transparência" vai exigir sempre "mais, ainda", como se fosse possível ver tudo, expor tudo.
Parece ridículo, por isso, que a igreja tente enviar a bola para os homossexuais ou estes reenviá-la para a igreja. A coisa propriamente dita está em toda a parte, como se dizia outrora do bom velho Deus. Outras igrejas se juntarão à católica - pois não adiante dizer que este é um problema "católico" ou "protestante", "homo" ou "hetero", "casado" ou "celibatário"...
Como na pesca de "arrasto", quando a rede passa leva tudo com ela. Ou quase. E tudo será cada vez mais apanhado na rede da hipervisibilidade. Como recordava Gérad Wijcman, há algum tempo (Cf. L'Oeil Absolu), não se pode conter este processo inevitável, imparável - apesar dos esforços abnegados de alguns -, mas apenas mostrá-lo.
Por isso, uma passo mais, ainda!
Mas há algo verdadeiramente novo debaixo do sol?
O que é novo não é a coisa propriamente dita - basta ver uma simples exposição sobre instrumentos de tortura concebidos no tempo da Inquisição, por exemplo, para nos apercebermos a que ponto chegava a mente perversa daqueles homens -, mas a sua exposição, a sua visibilidade a céu aberto.
Sejamos claros: isto é apenas a ponta do iceberg. A "sociedade da transparência" vai exigir sempre "mais, ainda", como se fosse possível ver tudo, expor tudo.
Parece ridículo, por isso, que a igreja tente enviar a bola para os homossexuais ou estes reenviá-la para a igreja. A coisa propriamente dita está em toda a parte, como se dizia outrora do bom velho Deus. Outras igrejas se juntarão à católica - pois não adiante dizer que este é um problema "católico" ou "protestante", "homo" ou "hetero", "casado" ou "celibatário"...
Como na pesca de "arrasto", quando a rede passa leva tudo com ela. Ou quase. E tudo será cada vez mais apanhado na rede da hipervisibilidade. Como recordava Gérad Wijcman, há algum tempo (Cf. L'Oeil Absolu), não se pode conter este processo inevitável, imparável - apesar dos esforços abnegados de alguns -, mas apenas mostrá-lo.
Por isso, uma passo mais, ainda!
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