O seu argumento para tão inverosímil conclusão era o seguinte: Aquiles nunca poderia alçançar a tartaruga, porque na altura em que atingisse o ponto de onde a tartaruga partira, ela ter-se-ia deslocado para outro ponto; na altura em que alçançasse esse segundo ponto, ela ter-se-ia deslocado de novo; e assim sucessivamente ad infinitum (Kirk e Raven).
Independentemente das explicações matemáticas para semelhante paradoxo (e é verdade que matemáticos famosos lhe dedicaram a atenção), interessa-me a teoria do espaço que está aqui implícita: a de que ele é infinitamente divisível. Ou seja, entre um ponto A e um ponto B, há uma tal infinidade de pontos, de passos, de distâncias... que, no limite, não há movimento. É esse, aliás, o objectivo de Zenão: demonstrar que todo o movimento é ilusório.
O actual modelo de avaliação dos professores (ensinos básico e secundário) é de tal forma "burocratizado", implicando uma infinidade de pontos, passos, distâncias, procedimentos, normas... para chegar ao ponto B (se chamarmos assim ao ensino-aprendizagem) que se revela uma perfeita demonstração do paradoxo de Zenão: mesmo quando parece que se está a mexer, que se corre muito de um lado para o outro, o que existe, na prática, é a imobilidade.
A burocracia imobiliza o desejo. Onde medra a norma, a ética definha.
E, no entanto, para alguns, trata-se apenas de transpor o limiar do ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.