
Há uma experiência mais ou menos trivial, a que tive a ocasião de assistir ainda recentemente, que consiste no seguinte: alguém faz uma pergunta a uma criança e, se ela não responde logo e com presteza, fazendo por assim dizer um compasso de espera (que bonita expressão para medir o incomensurável do tempo!), os adultos - ou alguns adultos, para ser justo - apressam-se a responder por ela, como se não suportassem aquele momento de silêncio, de vazio, que faz ex-sistir o tempo enquanto...tempo.
Na verdade, é ainda o "horror do vazio", da não resposta, do silêncio o que angustia aqui estes adultos. O silêncio faz surgir um sujeito não completamente objectivável (por exemplo a criança que não responde logo), mas que gostaríamos de reduzir a um objecto (um alter ego nosso, que falasse como nós, segundo o mesmo compasso).
Não é tanto o silêncio dos espaços infinitos, como diria Pascal, o que aí nos incomoda, mas a possibilidade de que esse silêncio fale, por assim dizer, que diga algo...que não gostaríamos de ouvir. O silêncio incomoda porque ele, em vez de ser uma ausência de fala, é uma das suas formas mais eloquentes. Só aquele que tem o dom da fala, tem, igualmente, o dom do silêncio.
Experimentemos, então, não encher apressadamente o vazio que o silêncio cava no tempo. Demos tempo...ao tempo! E, já agora, às crianças que não respondem logo e traçam um compasso de espera...