29.6.11

Salvar o diabo?

O tio Einstein (como é tratado carinhosamente pelo conhecido treinador de futebol José Mourinho) ainda acreditava que as leis que governam os fenómenos são deterministas, ao afirmar que "Deus não joga aos dados". À sua maneira, ele salva Deus; já o seu neto, digamos assim (o conhecido físico inglês Stephen Hawking) acaba por dispensar, no seu mais recente livro (O Grande Desígnio), a hipótese de Deus. Conclusão: a ciência não salva Deus.

Para que serve, então, a ciência nos dias que correm?

Para muita coisa, evidentemente. Para quase tudo. Ela é actualmente, pela eficácia dos resultados (sejam eles quais forem) o único argumento de autoridade. Para que uma carta chegue ao actualmente seu destino, ela tem de levar o selo (de garantia) da ciência. Daí que muitas "práticas" e "poéticas" de outrora estejam à rasca ou em vias de extinção.

Ela serve também, graças aos mais recentes avanços no domínio da Genética, para salvar espécies em vias de extinção. Achei curiosa a notícia que li hoje no Jornal Público: "Cientistas norte-americanos sequenciaram o genoma do diabo-da-tasmânia...em risco de extinção devido a um cancro contagioso" (p. 18).

Achei graça ao nome do marsupial carnívoro em causa e dei por mim a perguntar: será que também o diabo está em vias de extinção? Será a ciência capaz de salvar o diabo quando não foi capaz de salvar Deus?

É de crer que salvará, pelo menos, o diabo-da-tasmânia.

6.6.11

A parte da sombra III

Em nome da transparência, do direito a informar, a violência (agressões entre os jovens, entre colegas militares...) é reproduzida, ampliada até à exaustão pelas televisões a qualquer hora do dia. A mesma televisão que assinala com uma bola vermelha, no canto superior direito, programas e filmes susceptíveis de ferir a sensibilidade de alguns espectadores, repete de forma crua, e sem qualquer bola vermelha de permeio, a violência da vida real.

O problema é que à força de reduzir o real obscuro da violência a espectáculo televisivo, mediático (embora sem a mediação da palavra, pois também esta não passa de adereço quando é convocada) se tende a banalizar o mal que ela encerra ou a gerar ainda mais violência. A violência gera violência e pede sempre mais, ainda.

Contrariamente ao que sugere o termo "mediático" (medium, media), as televisões não "medeiam" (e muito menos temperam a violência), mas duplicam-na, triplicam-na...dando-lhe novos palcos para se exibir.

1.6.11

A parte da sombra II

Não é apenas no domínio da microfísica que o observador interfere com aquilo que é observado; o mesmo se passa, e por maioria de razão, no domínio da "física" do quotidiano: aquela que está mais à mão, a olho nu ou desarmado.

Um bom exemplo é a cobertura mediática dos acontecimentos: aumentando o seu tempo de "exposição" (os noticiários duram cada vez mais tempo) nem por isso se lança mais "luz" (ou se pretende lançar mais luz) sobre eles; pelo contrário, gera-se mais confusão.

Em qualquer caso, "interfere-se" no modo como os acontecimentos são vistos, na opinião se que forma sobre eles e no modo como se vão desenrolar. E tudo isto em nome do "dever" de informar ou do "direito" à informação. 

É a "democracia" mediática!